A equipe Falcons é uma organização de eSports da Arábia Saudita que pretende formar a próxima superequipe de Counter-Strike.
Muitos fãs de Counter-Strike podem não estar familiarizados com a Falcons devido à sua falta de sucesso competitivo na série. Em uma visão mais abrangente, ela é a vencedora do prêmio "Best Organisation", atribuído pela Federação de eSports da Arábia Saudita tanto em 2021 como em 2022. Para além de ter equipes no Counter-Strike 2, ela também participa em VALORANT, Rocket League e PUBG Mobile. Embora já tivesse uma equipe de Counter-Strike depois do BLAST.tv Paris Major 2023, ela já planeja passar por um reestruturação. O CS2 tem tido diferentes reações da comunidade de jogadores profissionais na sequência de seu lançamento, mas a Falcons está prestes a implodir o cenário.
Investimento em esportes
Não seria correto discutir o investimento que a Arábia Saudita tem feito em eSports sem antes falar sobre o investimento já realizado em esportes tradicionais. O nome que você escutará mais frequentemente associado aos esportes da região é o do Public Investment Fund (PIF). Ele é responsável por grandes investimentos em empresas como Uber, Capcom, Boeing, Meta (antigo Facebook), Disney e muitas outras. Mas, por que esportes? Uma parte da "Visão 2030" da Arábia Saudita é se tornar menos dependente economicamente de receitas do petróleo e, assim sendo, precisa de fluxos de receitas de outros setores.
O Newcastle United é uma equipe de futebol inglesa que joga na Premier League. A compra do clube pelo PIF foi um grande investimento em esportes que, desde então, impulsionou a equipe de tal forma que ela passou da zona de rebaixamento para uma equipe da Liga dos Campeões. O PIF também investiu na F1, via Aston Martin, e está dando seus passos iniciais no golfe através da nova LIV Golf International Series. Além do PIF, a Aramco e a NEOM também patrocinam vários esportes tradicionais e eSports.
eSports no Oriente Médio
Os eventos realizados no Oriente Médio têm aumentado a cada ano. Isso não ocorre apenas nos eSports, já que esportes de combate populares como UFC e boxe também têm tido eventos realizados na região — como exemplo mais recente podemos citar a luta entre Tyson Fury e Francis Ngannou.
Relativamente ao Counter-Strike, a Global Esports Tour, BLAST e Gamers8 já tiveram grandes eventos realizados em Dubai, Abu Dhabi e Riad ao longo dos últimos dois anos. Os eSports voltam aos EAU em dezembro com a BB Dacha e o BLAST Premier World Final 2023. Eventos como esses ajudarão a Arábia Saudita a alcançar seu objetivo de se tornar um centro global de eSports. E poderemos ver um crescimento ainda maior futuramente, dado que a ESL, considerada a empresa líder entre as organizadoras de torneios de Counter-Strike, foi comprada pelo PIF em 2022. Seria estranho se o centro global de eSports não tivesse uma "equipe de casa" para apoiar quando a competição for realizada na região, mesmo que os jogadores sejam, em sua maioria, europeus.
O projeto Falcons
Inicialmente, a equipe de CS:GO Falcons foi formada como uma mistura internacional, contando com jogadores como Alexander "br0" Bro, Moustafa "BLACKEAGLE" Baghdadi e Aleksandar "CacaNito" Kjulukoski. Em 2022, eles foram substituídos por uma escalação francesa, que, desde então, inclui grandes nomes como Nathan "NBK-" Schmitt e Kenny "kennyS" Schrub. Embora a equipe tenha sido capaz de alcançar alguns bons resultados em competições de tier B, seus resultados nos eventos tier A e acima têm sido fracos. Se não consegue vencer os melhores, compre-os.
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Contratando o melhor técnico de todos os tempos
Danny "zonic" Sørensen venceu mais Majors do que qualquer outro técnico em Counter-Strike, tanto nacionais como internacionais. A Falcons começou sua reestruturação ao contratar "zonic" e dar a ele autonomia para formar a equipe. Sua contratação foi uma decisão magnífica. Agora, a equipe não apenas pode bater as ofertas das outras equipes, como pode usar o apelo atrativo que é jogar sob o comando do mais premiado técnico de Counter-Strike. É isso é um fator crucial para a contratação de superestrelas que talvez não tenham alcançado todo o sucesso pretendido em CS:GO. Um novo começo em uma nova equipe e em um novo jogo.
Quais os problemas que a superequipe Falcons pode trazer?
Outro motivo para que consideremos a contratação de “zonic” uma jogada fantástica para a Falcons é que ela enfraquece a concorrência. Esse será o caso para muitas das equipes das quais a Falcons pretende contratar jogadores, e é aqui que os problemas começam a aparecer. Embora a criação de uma superequipe traga um interesse imediato da audiência, as superestrelas atuais estão em uma situação confortável enquanto contratados de equipes com desempenhos muito bons. Para que a Falcons forme uma superequipe, ela terá de desmembrar várias equipes, deixando-as com lacunas enormes por preencher. Não há muitos jogadores no mundo (se é que há algum) que a G2 Esports poderia ter para substituir Nikola "NiKo" Kovač ou que a NAVI pudesse ter como substituto de Oleksandr "s1mple" Kostyljev, por exemplo. Esses são talentos consagrados entre gerações. Felizmente para a Falcons, suas intenções têm passado despercebidas com tudo o que tem acontecido com a Heroic, a Liquid, a Cloud9, a GameSquare e muitas outras equipes que estão fazendo alterações em suas escalações nesta fase inicial do CS2.
A caça de jogadores de outras equipes acaba por criar um efeito de bola de neve, em que equipes que perderam jogadores têm de procurar substitutos. Apesar de agentes livres e jogadores do banco de reservas serem uma possibilidade, eu volto a enfatizar o que já disse sobre a falta de jogadores que possam efetivamente substituir essas superestrelas. Superestrelas só podem ser substituídas por superestrelas, resultando em mais lacunas. Concentrar os melhores jogadores de cada função em uma única equipe pode reduzir a competitividade. Essa é uma das razões fundamentais que levaram as entidades reguladoras do futebol a implementarem um sistema conhecido como Fair Play Financeiro (FFP), em que uma equipe não pode gastar mais do que o que ganha. A aplicação de um sistema semelhante no cenário dos eSports seria difícil.
O apelo atrativo de "zonic" é maior do que o de qualquer outro técnico no jogo, mas o dinheiro também conta. Há sempre boatos circulando sobre quanto um determinado jogador ganha e isso pode pesar na balança na hora de considerar uma mudança de equipe, especialmente se estão pedindo que você aceite uma redução de salário. O problema da Falcons ser capaz de apresentar a melhor proposta é que ela pode criar expectativas irreais em jogadores profissionais sobre quanto eles deveriam/poderiam ganhar. Os eSports são voláteis financeiramente e insustentáveis se tratados incorretamente. A oferta de salários desproporcionais pode tornar muito difícil para as equipes negociarem apropriadamente comissões e remunerações.
Como mencionado anteriormente, a audiência imediata será excelente para vermos como a equipe trabalha em conjunto. No passado, já vimos equipes estabelecerem uma era de domínio, e essas eram as equipes que, normalmente, definiam o meta do jogo. A Astralis é um dos principais exemplos, com os espectadores rotulando seu estilo de jogo como monótono e nada interessante de se assistir. Os torneios são mais empolgantes quando várias equipes têm chances semelhantes de vencer, mas uma superequipe removeria tal empolgação e acrescentaria um nível de previsibilidade aos eventos. E isso pode ter um impacto direto em visibilidade e audiência.
Escalação segundo boatos
Os boatos sobre a escalação* da Falcons apontam para os seguintes jogadores:
- Marco "Snappi" Pfeiffer
- Nikola "NiKo" Kovač
- Ilya "m0NESY" Osipov
- Emil "Magisk" Reif
- Mohammad "BOROS" Malhas
Se isso for verdade, quatro equipes poderiam ser diretamente impactadas, e entre elas estão as três melhores equipes do mundo na atualidade (até 30 de outubro). Isso também poderia impactar o ranking mundial, coisa que as equipes vão procurar evitar para não perderem convites para torneios ou qualificações para eventos Major. Não importa se essa acabará sendo realmente a escalação da Falcons ou não; o impacto será o mesmo independentemente de onde virão os jogadores.
O impacto geral da Falcons pode ser problemático para o Counter-Strike 2 em seu estágio inicial nos eSports. Uma coisa precisa ser dita: não é por colocar cinco dos melhores jogadores do mundo juntos que eles, imediatamente, passarão a vencer todos os torneios dos quais participarem. Todo o projeto pode desmoronar na última etapa, tal como aconteceu com a FaZe Clan na final do Boston Major. Como a maioria, eu também estou empolgado para saber quem a Falcons recrutará, mas, certamente, há preocupações sobre como isso pode impactar o Counter-Strike 2 mais adiante.
*No momento da escrita desse artigo, 2 de novembro.